Fiz amor com as horas
e engravidei-me da semente
de um poema rebelde,
que me devolveu olhares,
depois que nasceu em minha folha,
em balbucias que minhas palavras
mais expedicionárias nunca pisaram.
Em frases de Rimbaud
e saudades de Quintana,
quando este mundo
é tão grande,
mas não cabe na minha tolice,
de pensar que entendo;
de achar que agora sei.
O mundo não é recente,
eu sempre sou.
Por que quando eu era criança,
vendia bolhas de sabão
pelo preço do sorriso
e com isso comprei
uma casa no coração de meu mundo,
esse lugar que hoje
sempre é outono.
Amanhã,
então terei um filho pronominal,
com olhos de verbos
e voz adverbiais
e serei outro:
Muito feliz,
muito triste,
muito longe,
muito menos,
muito claro,
muito perto de eu mesmo.
Casando com todos os meus pretéritos
numa noite de paz gramatical.
~~ANJO ARREBATADOR~~